Data: 2010/12/20
Título: The Influence Of Minor Threat 30 Years After Their First Show
Tradutor: ThiagoSNFU
Veículo: Alternative Press
Link: http://www.altpress.com/features/entry/the_influence_of_minor_threat_30_years_after_their_first_show
Há exatas três décadas, um grupo heterogêneo de adolescentes entrou em uma casa de shows na vizinhança Adams Morgan, em Washington, D.C, sem imaginar que estariam testemunhando a história do movimento punk. As bandas Bad Brains , Black Market Baby e The Untouchables também se apresentaram nesse dia, e o show incluia também uma das primeiras apresentações do grupo S.O.A., cujo vocalista era o jovem Henry Garfield, que mais tarde seria conhecido como Henry Rollins. O Minor Threat completou a lista de bandas que se apresentou e começou, nesses dia, a redefinir muito da ideologia presente na cena de Washington e de qualquer outra cidade.
Em 1980, após o fim do grupo punk The Teen Idles, o então baixista Ian MacKaye se tornou vocalista, o baterista Jeff Nelson trouxe o guitarrista Lyle Preslar e o baixista Brian Baker para formar uma nova banda. No mês de dezembro daquele ano, eles se prepararam para sua primeira apresentação, que, de acordo com Ian MacKaye, era para arrecadar fundos:
“Foi um show beneficente produzido pelo Bad Brains para arrecadar fundos e substituir o amplificador de baixo de Paul Cleary, baixista da banda Black Market Baby, que emprestou o equipamento que acabou sendo roubado na cidade de Nova Iorque”
Embora ninguém pudesse imaginar que isso aconteceria, a performance da banda Minor Threat foi muito boa e causou certo barulho, graças ao sucesso da banda The Teen Idles.
Brian Baker diz:
“As expectativas eram grandes, o Ian e o Jeff terminaram com o The Teen Idles para formar o Minor Threat. Eles tocaram durante quase dois anos em Washington e foram até mesmo para a Califórnia. Esses foram os bons tempos da banda, que atingiu um público fiel de mais de cem pessoas e ficava atrás apenas da banda Bad Brains em popularidade na nossa pequena cena. Por esse motivo, o Minor Threat tinha uma grande responsabilidade pela frente.”
MacKaye não repetiu a mesma expectativa de Baker:
"Não acho que as pessoas estavam ávidas para ver o baixista do The Teen Idles em sua nova função como vocalista. Contudo, havia uma competição entre as bandas Minor Threat e S.O.A., não apenas porque Henry e eu éramos melhores amigos, mas também porque participávamos do mesmo grupo no colégio. Por isso, avalio que ambos os grupos queriam botar para quebrar.
Antes do Minor Threat, haviam bandas mais antigas, bandas mais estabelecidas em Washington como por exemplo The Slickee Boys. Entretanto, de repente vários grupos surgiram: Extorts e The Untouchables. A primeira apresentação do Minor Threat foi suficiente para que todos da platéia chegassem à conclusão de como as outras bandas eram irrelevantes e tolas, e como desajeitados e inexperientes nós éramos."
Cerca de 50 pessoas se apertaram na pequena sala de estar e participaram de uma mesma ação que durou toda à noite. Sobre o evento, Alec MacKaye, vocalista da banda The Untouchables e irmão mais novo de Ian, disse:
“O show foi caótico devido a inúmeras razões. De fato a maioria do público era composto pelos membros das bandas, e me lembro exatamente como fiquei impressionado por quanto o Minor Threat era firme e poderoso. Parecia impossível e como o show já havia começado, a excitação do momento foi muito pesada.”
Contudo, as coisas tomaram um rumo diferente quando um representante local da lei apareceu para fazer uma visita surpresa. Ian MacKaye, diz:
“O problema começou quando um oficial de polícia tentou entrar no local mas foi impedido pela pela pessoa que estava na porta cuidando que disse para o tira que ele precisava dar os US$3,00 referentes ao valor da entrada ou um mandado. No momento o policial foi embora mas voltou com muitos outros.”
Alec MacKaye, adiciona:
"Os policiais conseguiram a confusão e todo o confronto que estavam ávidos para demonstrar. Acho que chegada de um esquadrão inteiro dificilmente registraria metade do que as pessoas estavam fazendo e sentindo durante a apresentação da banda."
Devido a lingua afiada e ao modo de cantar peculiar de Ian MacKaye, além de músicas que duravam cerca de 90 segundos, não demorou muito para que a mensagem do Minor Threat se espalhasse pela capital dos Estados Unidos.
Paul Colucci, diz:
"O Bad Brains sempre foi “a banda de verdade” da cena, todos estavam apenas exercendo um papel de coadjuvante e queria ter a sorte de estar na presença dos caras. De uma hora para outra, o Minor Threat se tornou à banda de verdade. Eles competiam no mesmo nível que o Bad Brains, o Black Flag ou qualquer outra banda do planeta. Contudo os garotos eram humildes e simples, que só queria participar de uma cena, de dar umas voltas conosco. Foi algo poderoso. Subitamente você começou a querer estar com eles e fazer parte do que eles estavam fazendo, de uma maneira ou de outra. Depois disso, pareceu-me que cada nova banda que surgia no cenário tentava simular o som do Minor Threat o quanto mais fosse possível, e não apenas na cidade de Washington."
O guitarrista Kenny Inoye perdeu a primeira apresentação da banda, mas viu muitas das primeiras performances:
“Eles eram muito bons ao vivo, o que na época significava muito mais do que gravar boas músicas em um estúdio. Eles conseguiam tocar numa boa e a presença de palco era ótima. Todas as músicas passavam pelo teste da performance ao vivo.
Muito do legado do Minor Threat remete a primeira música tocada em sua primeira apresentação: Straight Edge. Uma idéia era levantada: abstenção de bebidas alcoólicas e drogas. Isso mexeu imediatamente com os jovens fãs que não queria ser auto-destrutivos nem copiar Sid Vicious. Sobre o termo, que em um primeiro momento teve significados totalmente diferentes do que o atual, o historiador e testemunha Tom Berard comenta:
“Eu trabalhava com limpeza de vidros naquela época e usava uma raspadeira para limpar cocô de pássaro e fita de fora das janelas. Quando me dei conta de uma música intitulada Straight Edge no setlist, pensei que fosse algo relacionado a uma espécie de navalha usada para esse instrumento.”
A mensagem não se tratava apenas de uma denúncia ao abuso de substâncias, era sobre resistir às obsessões existentes na sociedade: fossem elas religiosas ou violentas, ou simplesmente não querer viver rápido e morrer jovem. Isso foi um grito para a independência e autocontrole que ressoou durante os anos 80. Não demorou muito para que a mensagem se espalhasse. A banda do estado de Nevada, 7 Seconds, propôs uma aproximação melódica para o hardcore com letras positivas, freqüentemente com uma mensagem relacionada ao estilo de vida. No ano de 1981, a banda SSD já havia estabelecido uma cena livre de álcool e drogas na cidade de Bostoon. Uma onda de bandas concretizaram a mensagem que o Minor Threat deixou em seus idéias e suas músicas, mesmo que Ian MacKaye tenha dito que ele nunca teve a intenção de inspirar um movimento.
Ainda que a banda tenha durado poucos anos, até 1983, uma segunda geração de bandas straight edge surgiram para continuar a divulgação da filosofia de vida, lideradas por uma banda do estado de Connecticut, o Youth Of Today. John Porcelly, guitarrista do grupo, diz:
“O Minor Threat era uma das bandas que estava deixando as pessoas tontas, literalmente. Eu me lembro que estava ouvindo o programa de rádio WNYU quando tinha 14 anos e ouvindo a música Minor Threat pela primeira vez. Não podia nem me mexer naquele momento. No dia seguinte, peguei dinheiro do meu pai, fui até Nova Iorque e comprei um single da banda no Bleeker Bob’s. Aqueles talvez foram os US$4,00 mais bem gastos da minha vida. Uma das coisas mais surpreendentes da música acontece quando um vocalista consegue colocar exatamente o que você tem na sua cabeça nas letras das músicas. Quando você ouve uma música dessas pela primeira vez, ela se torna instantaneamente parte de você. Quando ouvi Out Of Step e Straight Edge pela primeira vez, peguei um canetão do meu bolso, o “x” foi parar na parte de trás das minhas mãos e minha vida nunca mais foi a mesma."
Nos anos 90, a banda straight-edge Earth Crisis, de Syracuse, estava se apresentando em divesos clubes por onde muitos outros grupos já tinham passado e as notícias nacionais sobre o estilo de vida continuavam a aparecer. Independente da intenção de Ian MacKaye, o apelo dos jovens continuava a aparecer devido a todas as pressões que aquela juventude sofria. A intenção de buscar uma vida mais saudável era universalmente aplicável. A grande diferença, e talvez o que tenha carimbado o legado do Minor Threat, é a sua mensagem abrangente que não restringe e não prega preconceito.
Jason Farrel, guitarrista da banda Swiz, comenta:
“Eu só fui ouvir falar dessa banda pouco meses depois que ela acabou. Por esse motivo, meu primeiro contato com sua música foi através das gravações. As músicas se distinguem muito bem uma das outras, mas são os riffs que cativam. Eu amo o fato de que as linhas de guitarra são, ao mesmo tempo, despretensiosas e pesadas. Há uma linha tênue que divide o que é para ser levado a sério e o que é brincadeira, e isso é possível de se perceber nos acordes de Lyle Preslar.”
Foi a música que a banda compartilhou com o mundo que a tornou ótima. Caso os quatro membros não fossem bons compositores e músicos, eles nunca teriam se tornado tão influentes apenas com a mensagem positiva. O Minor Threat é um exemplo primordial do que acontece quando você mora em uma cidade com uma banda que toca regularmente, como no caso era o Bad Brains. A ética do movimento punk é clara: qualquer um pode fazer isso. Contudo, é importantíssimo saber fazer isso ou aquilo de uma maneira legal.
Mark Ryan, vocalista da banda Supertouch, viu a banda tocar muitas vezes na cidade de Nova Iorque, inclusive na lendária apresentação que aconteceu no Gildersleeve’s. Mark se lembra da emoção que sentiu quando recebeu o EP Minor Threat na sua caixa de correios, enviada pela gravadora Dischord. Ele comenta o EP:
“Até aquele dia, toda a minha visão de como eu via o mundo, de como eu me relacionava com os seres humanos e a maneira que eu tratava a minha vida, tudo isso pode ser sintetizado no momento em que abri a minha caixa de correios e vi que tinha recebido um pequeno pacote da Beecher Street, em Washingon.”
Ao passo que a música continua inspirando pessoas trinta anos depois da criação da banda, a estética que o grupo propôs continua muito, ou talvez até mais, influente, desde o logotipo do grupo até a arte do álbum de estúdio e dos EPs. A bandas Rancid e The Beastie Boys já se inspiraram para suas artes e muitos membros de bandas tiraram fotos de divulgação emulando a mesma posição de Brian Baker, Ian MacKaye, Jeff Nelson e Lyle Preslar. Todo tipo de imagem compartilhada pela banda já foi utilizado por diversas empresas, como por exemplo a Nike, que alterou o logotipo do grupo para patrocinar uma turnê de skate intitulada Major Threat, e uma empresa alimentícia que vendeu molho de pimenta com o nome Minor Threat Sauce.
Durante as três décadas que se passaram, os membros da banda se envolvram em diferentes projetos no campo musical e for a dele. Ian MacKaye fundou a banda Fugazi, que também se tornaria muito influente, além de produzir álbuns de estúdio de bandas como Bikini Kill e Rites Of Spring, além de co-fundar a gravadora Dischord ao lado de Jeff Nelson. O co-compositor e guitarrista do grupo, Lyle Preslar, tocou na banda Samhain e mais tarde trabalhou para as gravadoras Caroline, Elektra e Sire antes de se formar em Direito há dois anos. Brian Baker fundou o Dag Nasty, tocou no Government Issue e se uniu ao Bad Religion em 1994. O baixista Steve Hansgen, que tocou no grupo em 1982, fundou as bandas Middle Aged Brigade e Second Wind.
A banda Minor Threat sempre representará a angústia, a confiança em si mesmo e a rebeldia que caracteriza o período transitório da adolescência para a fase adulta. Não importa o quanto às coisas mudem, a intenção de ir contra a multidão pode ser resumido em uma discografia que dura menos de uma hora.
Em 1980, após o fim do grupo punk The Teen Idles, o então baixista Ian MacKaye se tornou vocalista, o baterista Jeff Nelson trouxe o guitarrista Lyle Preslar e o baixista Brian Baker para formar uma nova banda. No mês de dezembro daquele ano, eles se prepararam para sua primeira apresentação, que, de acordo com Ian MacKaye, era para arrecadar fundos:
“Foi um show beneficente produzido pelo Bad Brains para arrecadar fundos e substituir o amplificador de baixo de Paul Cleary, baixista da banda Black Market Baby, que emprestou o equipamento que acabou sendo roubado na cidade de Nova Iorque”
Embora ninguém pudesse imaginar que isso aconteceria, a performance da banda Minor Threat foi muito boa e causou certo barulho, graças ao sucesso da banda The Teen Idles.
Brian Baker diz:
“As expectativas eram grandes, o Ian e o Jeff terminaram com o The Teen Idles para formar o Minor Threat. Eles tocaram durante quase dois anos em Washington e foram até mesmo para a Califórnia. Esses foram os bons tempos da banda, que atingiu um público fiel de mais de cem pessoas e ficava atrás apenas da banda Bad Brains em popularidade na nossa pequena cena. Por esse motivo, o Minor Threat tinha uma grande responsabilidade pela frente.”
MacKaye não repetiu a mesma expectativa de Baker:
"Não acho que as pessoas estavam ávidas para ver o baixista do The Teen Idles em sua nova função como vocalista. Contudo, havia uma competição entre as bandas Minor Threat e S.O.A., não apenas porque Henry e eu éramos melhores amigos, mas também porque participávamos do mesmo grupo no colégio. Por isso, avalio que ambos os grupos queriam botar para quebrar.
Antes do Minor Threat, haviam bandas mais antigas, bandas mais estabelecidas em Washington como por exemplo The Slickee Boys. Entretanto, de repente vários grupos surgiram: Extorts e The Untouchables. A primeira apresentação do Minor Threat foi suficiente para que todos da platéia chegassem à conclusão de como as outras bandas eram irrelevantes e tolas, e como desajeitados e inexperientes nós éramos."
Cerca de 50 pessoas se apertaram na pequena sala de estar e participaram de uma mesma ação que durou toda à noite. Sobre o evento, Alec MacKaye, vocalista da banda The Untouchables e irmão mais novo de Ian, disse:
“O show foi caótico devido a inúmeras razões. De fato a maioria do público era composto pelos membros das bandas, e me lembro exatamente como fiquei impressionado por quanto o Minor Threat era firme e poderoso. Parecia impossível e como o show já havia começado, a excitação do momento foi muito pesada.”
Contudo, as coisas tomaram um rumo diferente quando um representante local da lei apareceu para fazer uma visita surpresa. Ian MacKaye, diz:
“O problema começou quando um oficial de polícia tentou entrar no local mas foi impedido pela pela pessoa que estava na porta cuidando que disse para o tira que ele precisava dar os US$3,00 referentes ao valor da entrada ou um mandado. No momento o policial foi embora mas voltou com muitos outros.”
Alec MacKaye, adiciona:
"Os policiais conseguiram a confusão e todo o confronto que estavam ávidos para demonstrar. Acho que chegada de um esquadrão inteiro dificilmente registraria metade do que as pessoas estavam fazendo e sentindo durante a apresentação da banda."
Devido a lingua afiada e ao modo de cantar peculiar de Ian MacKaye, além de músicas que duravam cerca de 90 segundos, não demorou muito para que a mensagem do Minor Threat se espalhasse pela capital dos Estados Unidos.
Paul Colucci, diz:
"O Bad Brains sempre foi “a banda de verdade” da cena, todos estavam apenas exercendo um papel de coadjuvante e queria ter a sorte de estar na presença dos caras. De uma hora para outra, o Minor Threat se tornou à banda de verdade. Eles competiam no mesmo nível que o Bad Brains, o Black Flag ou qualquer outra banda do planeta. Contudo os garotos eram humildes e simples, que só queria participar de uma cena, de dar umas voltas conosco. Foi algo poderoso. Subitamente você começou a querer estar com eles e fazer parte do que eles estavam fazendo, de uma maneira ou de outra. Depois disso, pareceu-me que cada nova banda que surgia no cenário tentava simular o som do Minor Threat o quanto mais fosse possível, e não apenas na cidade de Washington."
O guitarrista Kenny Inoye perdeu a primeira apresentação da banda, mas viu muitas das primeiras performances:
“Eles eram muito bons ao vivo, o que na época significava muito mais do que gravar boas músicas em um estúdio. Eles conseguiam tocar numa boa e a presença de palco era ótima. Todas as músicas passavam pelo teste da performance ao vivo.
Muito do legado do Minor Threat remete a primeira música tocada em sua primeira apresentação: Straight Edge. Uma idéia era levantada: abstenção de bebidas alcoólicas e drogas. Isso mexeu imediatamente com os jovens fãs que não queria ser auto-destrutivos nem copiar Sid Vicious. Sobre o termo, que em um primeiro momento teve significados totalmente diferentes do que o atual, o historiador e testemunha Tom Berard comenta:
“Eu trabalhava com limpeza de vidros naquela época e usava uma raspadeira para limpar cocô de pássaro e fita de fora das janelas. Quando me dei conta de uma música intitulada Straight Edge no setlist, pensei que fosse algo relacionado a uma espécie de navalha usada para esse instrumento.”
A mensagem não se tratava apenas de uma denúncia ao abuso de substâncias, era sobre resistir às obsessões existentes na sociedade: fossem elas religiosas ou violentas, ou simplesmente não querer viver rápido e morrer jovem. Isso foi um grito para a independência e autocontrole que ressoou durante os anos 80. Não demorou muito para que a mensagem se espalhasse. A banda do estado de Nevada, 7 Seconds, propôs uma aproximação melódica para o hardcore com letras positivas, freqüentemente com uma mensagem relacionada ao estilo de vida. No ano de 1981, a banda SSD já havia estabelecido uma cena livre de álcool e drogas na cidade de Bostoon. Uma onda de bandas concretizaram a mensagem que o Minor Threat deixou em seus idéias e suas músicas, mesmo que Ian MacKaye tenha dito que ele nunca teve a intenção de inspirar um movimento.
Ainda que a banda tenha durado poucos anos, até 1983, uma segunda geração de bandas straight edge surgiram para continuar a divulgação da filosofia de vida, lideradas por uma banda do estado de Connecticut, o Youth Of Today. John Porcelly, guitarrista do grupo, diz:
“O Minor Threat era uma das bandas que estava deixando as pessoas tontas, literalmente. Eu me lembro que estava ouvindo o programa de rádio WNYU quando tinha 14 anos e ouvindo a música Minor Threat pela primeira vez. Não podia nem me mexer naquele momento. No dia seguinte, peguei dinheiro do meu pai, fui até Nova Iorque e comprei um single da banda no Bleeker Bob’s. Aqueles talvez foram os US$4,00 mais bem gastos da minha vida. Uma das coisas mais surpreendentes da música acontece quando um vocalista consegue colocar exatamente o que você tem na sua cabeça nas letras das músicas. Quando você ouve uma música dessas pela primeira vez, ela se torna instantaneamente parte de você. Quando ouvi Out Of Step e Straight Edge pela primeira vez, peguei um canetão do meu bolso, o “x” foi parar na parte de trás das minhas mãos e minha vida nunca mais foi a mesma."
Nos anos 90, a banda straight-edge Earth Crisis, de Syracuse, estava se apresentando em divesos clubes por onde muitos outros grupos já tinham passado e as notícias nacionais sobre o estilo de vida continuavam a aparecer. Independente da intenção de Ian MacKaye, o apelo dos jovens continuava a aparecer devido a todas as pressões que aquela juventude sofria. A intenção de buscar uma vida mais saudável era universalmente aplicável. A grande diferença, e talvez o que tenha carimbado o legado do Minor Threat, é a sua mensagem abrangente que não restringe e não prega preconceito.
Jason Farrel, guitarrista da banda Swiz, comenta:
“Eu só fui ouvir falar dessa banda pouco meses depois que ela acabou. Por esse motivo, meu primeiro contato com sua música foi através das gravações. As músicas se distinguem muito bem uma das outras, mas são os riffs que cativam. Eu amo o fato de que as linhas de guitarra são, ao mesmo tempo, despretensiosas e pesadas. Há uma linha tênue que divide o que é para ser levado a sério e o que é brincadeira, e isso é possível de se perceber nos acordes de Lyle Preslar.”
Foi a música que a banda compartilhou com o mundo que a tornou ótima. Caso os quatro membros não fossem bons compositores e músicos, eles nunca teriam se tornado tão influentes apenas com a mensagem positiva. O Minor Threat é um exemplo primordial do que acontece quando você mora em uma cidade com uma banda que toca regularmente, como no caso era o Bad Brains. A ética do movimento punk é clara: qualquer um pode fazer isso. Contudo, é importantíssimo saber fazer isso ou aquilo de uma maneira legal.
Mark Ryan, vocalista da banda Supertouch, viu a banda tocar muitas vezes na cidade de Nova Iorque, inclusive na lendária apresentação que aconteceu no Gildersleeve’s. Mark se lembra da emoção que sentiu quando recebeu o EP Minor Threat na sua caixa de correios, enviada pela gravadora Dischord. Ele comenta o EP:
“Até aquele dia, toda a minha visão de como eu via o mundo, de como eu me relacionava com os seres humanos e a maneira que eu tratava a minha vida, tudo isso pode ser sintetizado no momento em que abri a minha caixa de correios e vi que tinha recebido um pequeno pacote da Beecher Street, em Washingon.”
Ao passo que a música continua inspirando pessoas trinta anos depois da criação da banda, a estética que o grupo propôs continua muito, ou talvez até mais, influente, desde o logotipo do grupo até a arte do álbum de estúdio e dos EPs. A bandas Rancid e The Beastie Boys já se inspiraram para suas artes e muitos membros de bandas tiraram fotos de divulgação emulando a mesma posição de Brian Baker, Ian MacKaye, Jeff Nelson e Lyle Preslar. Todo tipo de imagem compartilhada pela banda já foi utilizado por diversas empresas, como por exemplo a Nike, que alterou o logotipo do grupo para patrocinar uma turnê de skate intitulada Major Threat, e uma empresa alimentícia que vendeu molho de pimenta com o nome Minor Threat Sauce.
Durante as três décadas que se passaram, os membros da banda se envolvram em diferentes projetos no campo musical e for a dele. Ian MacKaye fundou a banda Fugazi, que também se tornaria muito influente, além de produzir álbuns de estúdio de bandas como Bikini Kill e Rites Of Spring, além de co-fundar a gravadora Dischord ao lado de Jeff Nelson. O co-compositor e guitarrista do grupo, Lyle Preslar, tocou na banda Samhain e mais tarde trabalhou para as gravadoras Caroline, Elektra e Sire antes de se formar em Direito há dois anos. Brian Baker fundou o Dag Nasty, tocou no Government Issue e se uniu ao Bad Religion em 1994. O baixista Steve Hansgen, que tocou no grupo em 1982, fundou as bandas Middle Aged Brigade e Second Wind.
A banda Minor Threat sempre representará a angústia, a confiança em si mesmo e a rebeldia que caracteriza o período transitório da adolescência para a fase adulta. Não importa o quanto às coisas mudem, a intenção de ir contra a multidão pode ser resumido em uma discografia que dura menos de uma hora.
2 comentários:
caralho mano, parabéns mesmo pela tradução, está ótima, o texto em si é um grande tesouro para todo o underground.
Fica aqui meus sinceros agradecimentos pela sua atitude.
massa. valeu mesmo!
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