O melhor show da minha vida merece uma resenha muito especial, que beire a perfeição no que diz respeito a coesão e que possa demonstrar o máximo do significado que a apresentação do grupo californiano construiu na minha vida e provavelmente, em diferentes proporções, nas vidas dos outros mais de 20.000 presentes.
Após conhecer o Green Day em 2002, depois de comprar uma cópia original da 2a compilação, Shenanigans, que há pouco tempo tinha sido lançada, começei o meu arquivo virtual de álbuns de estúdio, álbuns ao vivo bootlegs, e vídeos que eu baixava do então muito acessado site Green Day Videos. Aquela foi uma época de ouro, porque eu era adolescente e ainda frequentava o colégio quando comecei a gostar muito das músicas da banda. Meses depois, quando entendi e interpretei o significado de grande parte das músicas até o sexto álbum de estúdio do trio, Warning. Lamentei muito por ter sido apenas uma criança em 1998 e não poder ter viajado de Curitiba, cidade onde moro, até São Paulo para ver o grupo se apresentar em uma de suas melhores épocas. Esse ano eu tive a minha chance e não a desperdicei. Comprei o ingresso assim que possível e as passagens de ônibus. Pensei e planejei assistir a primeira performance da banda na primeira data nacional, em Porto Alegre, mas por motivos financeiros fui forçado a me limitar apenas na cidade cinza. Hoje eu tenho certeza que iria na primeira data assim como, se possível, em Brasília e no Rio de Janeiro. De qualquer forma, esse fato fez com que eu aproveitasse ainda mais o que meus olhos e ouvidos presenciaram na Arena Anhembi e esse momento foi muito mais especial e inesquecível do que eu imaginava.
Após um dia muito especial com duas pessoas muito relevantes na minha vida, entrei no local do show pouco depois das 20:00 e após me posicionar do lado esquerdo da pista, vi a banda de abertura se apresentar e enquanto isso não parei de torcer para que aquela música fosse a última. Acho honrado dar a cara para bater e divulgar a sua música mas escolher uma banda para abrir um show dessa magnitude através de um concurso não é válido.
Pensei que a apresentação do Green Day começaria as 22:00 mas todos os presentes foram surpreendidos e pouco depois das 21:30 o grupo abriu o show com a música 21st Century Breakdown após a já esperada introdução de Song Of The Century. Nesse momento eu já me via cantando cada palavra dos versos da letra e acompanhado pelos mais de 20.000 fãs que pulavam freneticamente e faziam com que a voz de Billie Joe se tornasse ainda mais bela do que naturalmente já é. O grupo emendou os momentos finais da música e começou a tocar Know Your Enemy. Para quem achou que a platéia já estava em êxtase, os presentes se animaram o dobro para cantar, não apenas o refrão, mas a letra na íntregra de uma canção que não dá para ficar parado e parece que foi escrita justamente para exorcisar todos os maus sentimentos que alguem guarda devido a tantos momentos ruins que vivenciamos no nosso cotidiano. East Jesus Nowhere foi a próxima escolhida e durante a apresentação um jovem garoto foi chamado para o palco. Billie Joe combinou com a criança e em determinado momento da música, exorcisou o garoto que caiu no chão duro como uma pedra. Após a execuçã da música ele tentou conversar com o garoto e a barreira linguística fez com que sem querer o líder do grupo divertisse muito os presentes.
Em diferentes intervalos, sortudos foram chamados para subir no palco e participar do show. Um garoto hesitou mas acabou praticando o tão famoso stage dive, enquanto outro mais tarde seria convidado para cantar a música Longview, 4a faixa do terceiro álbum de estúdio do trio, Dookie, lançado dia 1° de fevereiro de 1994 pela gravadora Reprise. Outro jovem foi convidado para molhar a galera com uma das torneiras que dois membros haviam recentemente usando para o mesmo fim e uma adolescente também agitou os presentes e saiu do palco após dar um selinho em Billie Joe e encher todas as jovens adolescentes de inveja.
Holiday, a próxima canção, foi muito bem executada e acompanhada pela multidão. Eu já estava começando a ficar preocupado porque a 5a música já estava sendo tocada e eu não tinha ouvido nenhuma das antigas mas assim que Holiday acabou, Billie Joe trocou sua guitarra pela famosa Blue, uma Fender Stratocaster que ele ganhou quando tia apenas 11 anos. No exato momento eu já concluí que coisa boa estava por vir e quando o próprio anunciou que a próxima música seria Nice Guys Finish Last, eu gritei de alegria e soltei o primeiro puta que pariu da noite. Eu me identifico muito com a letra da música e não poderia deixar de cantar cada estrofe, cada verso. As quatro músicas seguintes seriam, respectivamente, as 7a, 10a, 5a, 6a e 4a faixas do penúltimo álbum de estúdio do grupo, American Idiot, lançado no dia 21 de setembro de 2004 pela mesma gravadora. A geração de fãs nascida depois de 1990 e que foi construída com a explosão do trabalho citado na frase anterior fez jus ao investimento para pagar os dois tipos de ingresso ofertados e aproveitou para mostrar ao trio que não gosta apenas do novo visual que a banda adotou a parti de 2004 mas também que sabe muito bem interpretar as mensagens politizadas e cantar as músicas mais recentes. Para a alegria da geração que nasceu nos anos 80, na qual eu me encaixo, as dez músicas seguintes fazem parte da história que a banda construiu nos anos 90, desde o começo até a explosão de suas músicas ao redor do mundo.
Por se tratar de uma resenha, um fato que faço questão de comentar e é que foram poucos os presentes que cantaram essas músicas em alto e bom tom. Fiquei pouco atrás da barreira que separava a pista comum da pista premium durante a execução dessas canções foram poucos os que estavam próximos a mim e que acompanharam o Billie Joe. Canções populares como Geek Stink Breath, Hitchin' A Ride, When I Come Around foram cantadas em couro mas parecia que o pessoal não sabia um mínimo pedaço de 2000 Light Years Away e principalmente Paper Lanterns (esta última é raramente executada nos dias atuais). Entre as músicas antigas, Billie Joe trocou de lugar com o baterista Tré Cool e este, por sua vez, cantou a música Dominated Love Slave, canção escrita por ele mesmo cuja letra remete a sexualidade do mesmo que adora apanhar e ser safadinho. Eu sempre quis ver ele tocando a música porque semrpe que eu via nos vídeos eu achava muito engraçado e naquele momento eu pude ver tudo o que sempre esperei ao vivo. Ainda que J.A.R. tenha sido escrita pelo baixista da banda, Mike Dirnt, sobre um amigo que ele perdeu em um acidente de carro, foi muito bom poder ouvi-la ao vivo e cantar seus trechos, mais uma vez pelo motivo de se tratar de uma canção que não é muito tocada nos shows. Depois de tocar When I Come Around, a banda começaria a já esperada seção de versões cover.
Por ironia ou simplesmente para fazer graça, eu nunca irei saber. O que importa é que o grupo trocou alguns trechos das mais famosas músicas de bandas de hard rock e metal como AC/DC, Black Sabbath, Guns N' Roses e Metallica. O público gostou muito e acompanhou o grupo. Não importa se você é um punk e só gosta de hardcore ou punk rock, existem músicas que são universais e agradam qualquer tipo de admirador de música e rapidamente fazem você cantar e balançar no mesmo ritmo. Tirando o fato da multidão que não cantou as músicas mais antigas, não via a hora que a execução de Brain Stew acabasse para que o grupo emendasse a música Jaded, outra de minhas favoritas e mais propícias para dançar em uma roda punk. Isso aconteceu logo após a primeira parte de versões cover e momentos depois Billie Joe convidou um garoto para cantar a música Longview. Ele foi muito claro e avisou o público de mais de 20000 pessoas que precisava de alguém que realmente soubesse a letra da música. O menino sortudo e mais invejado da noite mandou muito bem e mesmo esquecendo algumas partes da letrta, consegiu empolgar o público e até mesmo o vocalista que rasgou elogios e disse que esse foi o vocalista mais maluco que ele já conheceu, devido a sua performance e estado de loucura temporária que apresentou. Com certeza queria que eu tivesse sido "o escolhido" da noite mas estava tão longe do palco que as minhas chances seriam se não zero, negativas. As músicas seguintes foram Basket Case e She, duas das talvez mais populares e favoritas dos fãs do grupo. A canção seguinte abriria mais uma parte significativa e diferente do show, e a escolhida foi King For A Day.
Essa música trata de um tema relacionado a sexualidade e dessa vez, todos os membros da banda, inclusive Jason White, guitarrista base e amigo de longa data do grupo, fantasiaram-se de mulher ou algo que o faça. Até mesmo um saxofonista apareceu, fantasiado de Elvis Presley, para tocar o solo da música Shout. Nesse momento cada integrante que estava se apresentando no palco foi ovacionado pelo público antes de cantar o refrão da música, escrita e gravada originalmente pela banda The Isley Brothers. Na sequência, duas versões das duas maiores bandas de rock de todos os tempos seriam interpretadas pelo compositor, guitarrista e vocalista do grupo: (I Can't Get No) Satisfaction e Hey Jude. Ficou evidente como a performance de um vocalista pode fazer um show maravilhoso e como uma banda, com mais de 20 anos de carreira, continua tocando com a sua alma e o seu coração músicas que fizeram a diferença , foram relevantes e continuam sendo para a geração atual.
Eu já estava muito cansado quando o grupo tocou a música 21 Guns e mesmo assim não me cansava de cantar e pular para aproveitar o máximo possível aquele momento. Essa foi a execução mais performática de todas e provavelmente a que deixou a multidão mais impressionada. Antes de tocar mais três músicas do penúltimo álbum de estúdio, o Green Day tocou a música Minority, outra das minhas favoritas. Pela primeira e única vez na noite, Billie Joe pegou a sua harmônica e tocou o solo. Eu sinceramente não esperava que o grupo fosse tocar essa canção porque preferi não ler o set list que foi divulgado na Internet e deixar que a surpresa fosse mais um aspecto importante na noite de ontem. American Idiot, a conceitural Jesus Of Suburbia e Whatesername também foram tocadas e nesse momento já era o dia do meu aniversário, porque o relógio já marcava pouco mais de meia-noite. Fui concluir isso apenas depois que o show acabou e assim que o grupo deixou o palco, quase entrei em desespero por não ter ouvido as duas músicas que mais esperava para aquele fatídico dia 20 de outubro. Fiquei calmo minutos depois que Billie Joe reapareceu com seu violão. No mesmo segundo que vi isso concluí que mais um dos melhores momentos daquela apresentação estava por vir. Wake Me Up When September Ends e Good Riddance (Time Of Your Life) foram as duas últimas canções que foram tocadas para fechar a apresentação com chave de ouro. Este foi o melhor presente de aniversário que eu ganhei em toda a minha vida e no caminho de volta para a rodoviária eu não parei de pensar como cada viagem que eu fiz para São Paulo foi importante para mim e como os momentos pré, durante e pós-show ficarão cravados para sempre no meu coração, graças a banda e também a Aline e a Helena que fizeram o meu dia ainda mais especial com todo o carinho que me deram.
Por que uma banda que já atingiu todo o sucesso e reconhecimento crítico continua tocando? Na viagem de volta para Curitiba eu pensei nisso e a única resposta que posso dar é a mesma que Billie Joe deu na coletiva de imprensa que o Green Day deu no último dia 13, em São Paulo, horas antes da primeira apresentação no Brasil, na cidade de Porto Alegre. Cantar e tocar boas músicas que fazem a diferença na vida de uma pessoa deve ser o desejo e a missão de todo bom músico e é isso o que o Green Day faz e continuará fazendo até o seu fim. Este grupo mudou o modo como as pessoas viam o gênero musical punk rock na metade dos anos 90 e com certeza será lembrada ao lado de bandas como Black Flag, The Ramones e muitas outras que ajudaram a construir o que hoje rotulamos como punk rock. A performance ao vivo foi uma das melhores que vi e usando como parâmetro as apresentações de muitas outras bandas punk de renome que vi tocar, posso afirmar com os dois pés juntos que Green Day foi a melhor, não apenas porque essa é uma das minhas favoritas, mas pela entrega que os três membros tocam cada uma das músicas, o profissionalismo e as mais de três horas de maratona musical. Nunca voi me esquecer desse show e gostaria muito de descobrir uma maneira de acabar com a depressão pós-show porque o que eu mais queria agora era estar lá e ver tudo de novo acontecendo na minha frente.
6 comentários:
Posso falar? Você me encheu de orgulho agora! Parabéns!
Você soube passar seus sentimentos e os acontecimentos perfeitamente para a escrita, e isso é fantástico. Com cada palavra escrita sua, imaginei cada momento do show que eu não pude ir, obrigada. Mas da próxima não vou perder, eu vou estar lá para poder sentir esses mesmos sentimentos ou talvez até outros que vão além da mente ou do coração. Muito bom, parabéns !
Caramba, muito boa a resenha! Lí tudo! Queria ter ido, mas moro no MA e ficava muito difícil ir... Só uma curiosidade, Billie ganhou a Blue de seu pai quando ele tinha 10 anos antes dele morrer, e não 11 como foi dito... Tirando isso, foi perfeito!
Só agora fui descobrir este post e realmente, fiquei emocionada, porque me fez voltar àquele momento tão maravilhoso. Eu estava lááá, a dez metros do palco, na frente do Mike!!! E com a minha mãe do lado!! Sim, ela foi comigo, porque não queria que eu fosse sozinha a um ambiente no qual nunca havia estado antes. Se lamentou desde maio, quando compramos os ingressos, até o dia 20 de manhãzinha, pois nunca gostou da banda e também nunca havia ido a um show de rock. Mas adivinha o que aconteceu depois? Ela pulou, gritou, se molhou e elogiou o modo como eles souberam (e sabem) conduzir um show. Resumindo: Adorou!
E eu? Eu fico sem palavras quando penso que a minha banda favorita veio cantar no meu bairro, bem perto de onde estou agora, pois moro há 15 min do anhembi, haha, fico boba :D
Em relação às pessoas que não sabiam cantar as músicas antigas, foi bem verdade. Havia uma mulher perto de mim, quado o espetáculo, infelizmente, acabou, que disse, meio se lamentando: "Não conheci metade das músicas". Veja só, ela não só não sabia cantar, como, simplesmente, não as conhecia. Ah! E ela não era da geração dos anos 90, não, viu. Parecia mais uma daquelas que vai em baladas e só gosta de curtir uma bagunça. Eu sou de 93, só conheci o Green Day em 2005, mas conhecia e sabia cantar todas elas muito bem. Bom, depois de 2 anos fui descobrir este seu post, como já falei, fazendo adivinha o quê? Buscando tudo que posso encontrar sobre o dia mais incrível da minha vida até então, porque, acredite, ainda sofro da depressão pós show, hahaha! Tchau e desculpe por ter escrito muito :D
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