2010/10/28

Entrevista: Karl Alvarez (Descendents)

Autor:
Data: 28/10/2010
Título: DS Exclusive: Karl Alvarez (Descendents) – Talks The Future Of Descendents And Reunification Of The Rock Nation
Tradutor: ThiagoSNFU
Veículo: Dying Scene
Link: http://dyingscene.com/news/ds-exclusive-interview-karl-alvarez-descendents-talks-hyphens-mortality-middle-age-and-the-reunification-of-the-rock-nation

Não importa quantas vezes eu tente escrever essa introdução, sei que não farei justiça a banda ou ao seu integrante. Contudo, pela primeira vez desde a sua fundação, a banda Descendents fará apresentações na Austrália como parte do festival No Sleep Til que acontecerá pelo país em dezembro. O baixista do grupo, Karl Alvarez, reservou algum tempo para conversar com o site Dying Scene sobre a condição de mortais que nós seres humanos temos, sobre ser um roqueiro de meia idade e mais importante, a reunificação de uma nação roqueira.

Descendents é um nome sinônimo de história no gênero musical punk rock. Apresentando-se com diferentes formações desde 1978, a banda por si só é mais velha que a média de idade daqueles que compraram os ingressos para os shows desse ano. Pela primeira vez desde alguns anos, A banda se apresentará, dessa vez na Austrália. Karl Alvarez conversou comigo do estúdio de gravação The Blasting Room, cujo dono é seu parceiro de banda, Bill Stevenson.

O anúncio dessa turnê chocou grande parte dos fãs punks australianos, e criou na mente de fãs ao redor do mundo uma questão importante: Essa reunião significa que podemos esperar mais um álbum de estúdio da banda? Karl me disse o seguinte: “Nós sempre planejamos um novo álbum”. Penso muito que é mais simples quando você está nos seus vinte anos e entra em uma van para fazer uma turnê por períodos extensos. Contudo, quando você está na casa dos 30 ou 40 isso se torna muito difícil porque as pessoas possuem famílias. O hiatus aconteceu porque o Bill, o Milo e o Stephen estavam criando seus filhos. Quando você é pai você não quer ficar oito meses no ano longe de casa.


“Acho que voltamos, nós provavelmente gravaremos um álbum de estúdio e provavelmente faremos mais shows, mas não acho que faremos uma turnê muito extensa assim como fazíamos nos bons e velhos tempos. Na turnê do álbum Everything Sucks, nós ficamos em casa apenas 17 dias no ano. Até certo ponto isso é muito tenso. Quando você é jovem, isso é ótimo, tudo é uma aventura mas quando você envelhece você adquire uma vida em casa. Eu sempre estive fazendo turnês sempre que possível porque não tenho filhos e por esse motivo fiz turnês nos últimos seis anos com bandas como All Systems Go, Gogol Bordello e The Real McKenzies. Sou viciado nisso.”

“O Stephen formou a sua banda, o 40Engine, e comprou um estúdio de gravação em Oklahoma. O Bill também possui um, o The Blasting Room, no qual gravou os álbuns de estúdio da banda Rise Against e muitos outros. Ele realmente trabalha muito naquele lugar. Milo é um pesquisador em Biologia e é claro que ele de fato teve muito trabalho que o manteve longe da música por todos esses anos. Sua paixão por ciência e música é muito forte. Já eu participo de turnês ocasionais e faço algumas pinturas. Vivo de maneira estranha, talvez boêmia. Escrevo as músicas, gravo-as e faço turnês. Esse é o meu modo de vida.

Bill e eu, nos últimos anos, sentimos na pele o que é ser um mero mortal. Sofri um infarto agudo do miocárdio que não me deixou muito mal, estou bem mas o susto serviu para eu ficar em alerta. Bill teve recentemente algumas problemas de saúde que quase o levaram a morte e isso nos fez lembrar que amamos tocar juntos e ficar próximos um do outro, por isso devemos começar a aproveitar o tempo porque não são poderemos tocar para sempre. Com 40 anos nas costas, é positivo pensar dessa maneira e agora pensamos se será possível as mesmas músicas da maneira que deverão ser tocadas daqui a 10, 20 ou 40 anos. Eu não sei mas tenho certeza que serão executadas de maneira terrivelmente rápida.”

A questão da idade não é dissuasiva. Todos os membros da banda são vividos e possuem muita experiência. Karl não teria receio nenhum em continuar se apresentando tão bem como fizera na época de ouro da banda.

“Não tenho nenhum problema com isso. Cresci idolatrando a música country, blues e por algum motivo nesses dois gêneros musicais não faz mal se você fica velho. Você ganha prestígio ao envelhecer. Por algum outro motivo, no rock n’ roll, isso foi visto com outros olhos. Acho engraçado que podemos observar o Keith Richards tocando pelo planeta, certo? Certa vez assisti um show do Muddy Waters quando ele já era muito velho, ele não conseguia mais ficar em pé para se apresnetar mas ele sempre foi um ótimo músico.

“Música é música, cara. Estou realmente desinteressado em pequenas culturas ou sub-culturas e acho que posso falar também por toda a banda quando digo que acho que todas essas divisões só servem para dividir as pessoas. Acho que nesse momento esse é o último tipo de coisa que o planeta precisa.”

"Lá na Europa eles chamam tal gênero musical de folk-punk. Não consigo contar quantas vezes você consegue subdividir alguma coisa. O que estou tentando dizer é o seguinte: a reunificação de uma nação roqueira. Acho que tudo o que ouvimos é um subgênero do rock e não acho que você pode ganhar alguma coisa rotulando de uma maneira dramaticamente diferente. Ainda existem jovens fãs que estão produzindo novas músicas e as pessoas continuam com todas as rotulações. Existe esse punk dançante que as pessoas estão gostando. Existem todos os tipos de ângulos para analisar o que é música e acho isso ótimo porque alguém está interessado em mostrar algo novo. O que me irrita são as aspas. Caso você precise de duas ou mais para descrever a sua banda você deveria pensar sobre o que você está fazendo."


Karl preferiu não dar exemplos por motivos plausíveis.

"Não darei exemplos de bandas porque fazer isso só criaria uma vibe negativa ou coisa do tipo. Usando a internet faço várias amizades com bandas e pessoas e leio muitas descrições e admito que gosto de fazer isso mas quando o faço só me deparo com “ska-punk-funk-country” e coisas do tipo. O que diabos é “african-bluegrass”? Fico imaginando como isso deve ser.."

“Acho que é importante pensar sobre a verdade que existe por trás da música. Desde os primóridos os artistas e grupos musicais reinventaram estilos e colocaram a sua marca com o passar dos anos. Existe uma explícita linha de plágios porque a música é de fato uma arte muito aberta e extensa. Vou ser honesto contigo. A banda The Beach Boys copiou Chuck Berry. Essa é a única verdade. Contudo, como posso condenar pessoas que aparentemente escrevem músicas do fundo de seus corações? Essa é apenas mais uma forma de se fazer música.”

Enquanto a banda ALL esteve se apresentando constatemente, o grupo Descendents não deu as caras com Milo nos últimos dez anos.

“Nós tocamos como Descendents talvez há oito anos em New Jersey. Tocamos em um festival e para ser sincero eu nem consigo me lembrar o nome. Fizemos um outro show avulso antes dessa apresentação passamos anos sem fazer nada."

Karl assume que os ícones do punk continuarão a se apresentar nos palcos.

“Nossa música recebe muita demanda. Simultaneamente, nenhum de nós parou de cantar ou tocar. Milo é um corredor e ele possui mais energia do que a maioria dos fãs que nos assistem tocar. Bill tem mais energia agora do que ele teve nos últimos cinco ou dez anos. Ele realmente está muito bem. Ele passou por alguns problemas de saúde mas recuperou-se milagrosamente. Estamos completamente entusiasmados e preparados para mais um desafio em nossas carreiras.”

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