2011/01/17

Especial: The Incident In Santos, Brazil

Autor: Delirium-
Data: 2009/09/06
Título: The Incident In Santos, Brazil
Tradutor: ThiagoSNFU
Veículo: The Bad Religion Page
Link: http://www.thebrpage.net/shows/show_review.asp?reviewID=124

Aconteceu no mês de março de 1999. Havia uma selva nas colinas de Santos e estava chovendo, o que já era esperado em se tratando de uma floresta tropical. Segundo o cronograma, tocaríamos as 22:00 daquele dia e chegamos mais cedo no local da apresentação para a passagem de som. Ainda havia luz fora da casa de show e pudemos ver que aquela casa era uma das mais interessantes na qual já estivemos. Tratava-se de um clube noturno com espaço aberto e com um telhado no estilo de tendas, uma plataforma e uma grande área, também aberta, para dança. Tudo isso dividido em um fragmento remanescente da Mata Atlântica, cujo acesso só era possível através de uma estrada de duas mãos que proporcionou um engarrafamento e frustrou os punks brasileiros.

Pude notar um grupo de punks e a floresta selvagem que nos protegeu naquela noite. Naquele momento, dentro da casa de show, havia apenas amplificadores silenciosos e todo o som que uma floresta poderia nos proporcionar. Não havia nuvens e naquele momento não chovia. A passagem de som aconteceu sem nenhum problema e demoramos poucos minutos para atravessar o subúrbio da cidade e sobreviver. No final da pista de dança havia um bar sem cobertura e atrás dele uma vista panorâmica de toda a cidade abaixo de nós.

O precipício tinha cerca de 300 metros de altura até quebrar em um declive com coberturas de árvores que davam para a própria cidade. Lembro-me que se não fossem por aquelas cercas, toda a multidão poderia surfar para a direção do penhasco e não mais voltar.

A chuva começou sem aviso prévio. Nem ao menos um instrumento havia sido tocado, a banda de abertura nem ao menos tinha subido no palco. Estávamos no camarim tomando caipirinha quando um som de trovão caiu do céu. Um trovão atingiria o nosso teto e todo o barulho continuaria sem nenhuma trégua. A primeira instância isso pareceu comum para os cidadãos locais, mas após uma hora, eles começaram a ficar preocupados. Devido a nossa experiência ao redor do mundo, sabíamos que quando os responsáveis locais ficavam nervosos era porque o cenário poderia mudar instantaneamente. A apresentação atrasou duas horas e a platéia sabia que algo de errado estava acontecendo. As coisas mudaram de mal para pior. Em alguns lugares as quedas de energia duravam poucos minutos, mas o Brasil é conhecido por blecautes que duram alguns dias.

Não tinhamos certeza de quão abrangente tinha sido o blecaute porque só notamos a queda de luz nos camarins e no palco. Sabíamos que os membros da platéia também estavam sem luz porque a música que estava sendo tocada foi interrompida. Quando nos dirigimos para o fundo do bar visualizamos o nosso panorama. Pudemos ver as últimas regiões da cidade com luz, e em segundos, após vários piscos, toda a cidade na escuridão, após cinco minutos. Naquele momento, todos que esperavam para nos ver tocar ficaram muito putos.

Foi nesse momento que o promotor do evento veio até nós e disse: “Vamos cair fora daqui, os fãs estão transtornados e com certeza irão matar vocês.” Perguntei para mim mesmo: “Por que matar nós?” Pensamos até em tocar um set acústico, mas chegamos a conclusão que naquele lugar o público só ouviria a bateria do Bobby porque as guitarras não tinham energia.

Os 4000 fãs estavam nesse momento assoviando e cantando sem parar, enquanto nós voltávamos para a cidade. Chegamos no hotel e o promotor do show nos disse que voltaria para o loção do evento para solucionar o problema.

Tudo isso significava que o dinheiro dos ingressos seriam devolvidos. Depois descobrimos que isso não acontece quando o cancelamento da apresentação se dá por problemas relacionados às condições climáticas. Enquanto ele buscava uma solução para o problema, nós estávamos nos preparando para dormir. Já era mais de meia-noite e a tempestade tinha passado. A energia não havia voltado e por esse motivo nos viramos com velas até que o celular tocou lá pela uma hora da manhã: “Vocês precisam voltar agora, nós temos energia.”

A volta para a casa de show pela colina foi um caos. Não havia luz nas ruas, as pessoas não paravam de gritar, vários saqueadores se aproveitando da situação e os punks descendo a montanha e subindo-a novamente quando souberam da possibilidade da apresentação acontecer. O tráfego e todo o barulho das buzinas e motores era ensurdecedor. Não havia como seguir com a van e por isso caminhamos quase um quilometro até chegar na casa do show. Assim que entramos pelas catracas, fomos recebidos com olhares carregados de descrença.

Duas da manhã. O local continuava lotado. Tocamos um setlist inteiro e vivemos o momento de nossas vidas. O caos, o entusiasmo, a mistura de sentimentos e a conspiração que a floresta tropical nos ofereceu foi uma experiência incrível.

Agradeço a todas as pessoas que permaneceram juntas para aquela apresentação. Nós não nos esqueceremos daquilo tão cedo.

Epílogo: A queda de energia se tornou um blecaute que se espalhou por uma rede de cidades. O estado inteiro de São Paulo sofreu a queda de energia, que deixou mais de 68 milhões de pessoas em energia por 24 horas.


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